1 de mai. de 2010

SOBRE O CONCEITO DE UTILIDADE MARGINAL



1- Introdução: O que determina o valor dos bens? Essa é uma pergunta que durante um longo tempo consumiu o tempo de diversos teóricos da Economia. Vejamos a seguir as diversas respostas dadas a essa pergunta até se chegar à conclusão atual de que os bens possuem valor se forem escassos, ou seja, se forem úteis e limitados em quantidade.
1.1-Valor-Trabalho: Os economistas clássicos britânicos Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823) explicaram a origem do valor no trabalho, ou seja, um bem vale o custo do esforço físico envolvido na sua obtenção. O caçador que perseguiu e capturou um coelho ao final de duas horas de trabalho, se for trocá-lo, irá querer um peixe que também demorou duas horas para ser pescado. A teoria do valor-trabalho estabelece que todos os bens que valem, e por isso são trocados, incorporam trabalho. Apenas o trabalho constitui a riqueza.
1.2- Mais-Valia: Usando a teoria do valor-trabalho, Karl Marx (1818-83) defendeu que a acumulação de riqueza ocorre por causa da exploração dos que trabalham. Ele propôs o conceito de mais-valia.
Alguém resolve lavar pratos em um restaurante e combina com o proprietário que durante oito horas lavará quinhentos pratos em troca de $10. Tanto para o trabalhador como para o dono do restaurante, o pagamento de $10 compensa o esforço de oito horas de trabalho. Se o dono do restaurante comprar uma lava louça eletrônica, o empregado será capaz de lavar os quinhentos pratos em apenas seis horas. O trabalhador irá agora trabalhar apenas seis horas ou receber mais pelos pratos lavados nas duas horas excedentes? Possivelmente nenhuma das duas situações: nem o trabalhador deixará o local de trabalho nem o patrão irá pagar mais. O número de pratos lavados na sétima e oitava horas mede a mais-valia: o valor a mais de trabalho não pago ao trabalhador que é apropriado indevidamente pelo empregador. Este é um exemplo de mais-valia relativa. A mais-valia absoluta ocorreria se o dono do restaurante fosse capaz de obrigar o empregado a fazer hora extra sem remunerá-lo. O economista moderno argumentaria que o capital (no exemplo, a lava louça) também aumenta a produtividade. Marx, porém, achava que apenas o trabalho gera valor.
1.3- Valor-Utilidade: Economistas clássicos franceses como Jean-Baptiste Say (1767-1832) achavam que a utilidade explicaria o valor. O pescador que não come carne não vai trocar peixe por coelho, mesmo que o coelho incorpore as mesmas horas de trabalho. O valor dependeria apenas da utilidade subjetiva proporcionada pelo bem a determinada pessoa. Esta é a teoria do valor-utilidade.
1.4- Utilidade marginal: Retomemos o nosso ponto de partida, quando afirmamos que a teoria moderna de valor começou com Adam Smith (1776), David Ricardo (1817) e vários outros autores que compõe o grupo da Escola Clássica de Economia. E que estes autores explicavam a formação dos preços, basicamente, pelos seus custos de produção. Se uma mercadoria "A" custava, para ser produzida, o dobro que a mercadoria "B, o preço de "A" seria duas vezes maior que o preço de "B".
Mas ficava evidente que essa análise era muito imperfeita. Como os custos dependem do volume de produção, e (na maioria dos casos) quando o volume de produção aumenta os custos caem, uma análise da teoria dos preços precisaria levar em consideração a demanda pelas mercadorias.
O estudo da demanda de um produto é relacionado com sua utilidade. Mas os economistas clássicos tinham uma certa dificuldade para lidar com o conceito de utilidade na formação dos preços. Criaram o paradoxo do pão e do brilhante: como o pão, que é tão útil, é tão barato e o brilhante, de utilidade relativa, é tão caro? - perguntavam-se eles, sem obter resposta.
A criação do conceito de utilidade marginal, que floresceu no final do século XIX, veio trazer a resposta ao paradoxo e hoje é a base teórica da análise econômica da demanda.
O valor da utilidade marginal se define como sendo o valor, para o consumidor, representado por uma unidade adicional de alguma mercadoria.
Assim, a teoria do valor gerado pela escassez combina as duas abordagens clássicas. Os bens possuem valor se forem úteis (como na abordagem francesa) e limitados em quantidade (como na abordagem britânica). A utilidade é condição necessária, mas não suficiente, para um bem possuir valor. Já o trabalho possui valor porque é, ele próprio, simultaneamente útil e limitado em quantidade.
A teoria da escassez também pode ser interpretada como utilidade marginal. Alguém desfruta de certa satisfação ao tomar um sorvete. Talvez ainda aumente a sua utilidade ao tomar um segundo sorvete. É possível que um terceiro sorvete a sacie e um quarto lhe cause mal-estar. A pessoa pode até ficar doente se tomar cinco sorvetes.
Mais e mais unidades de sorvete não trazem uma satisfação sempre crescente. A pessoa racional vai pensar "na margem", ou seja, em cada unidade de sorvete a mais. Há um limite máximo em determinada quantidade e a sua satisfação vai depender dessa quantidade ótima.
Tomemos outro exemplo: para um consumidor que esteja com fome, a primeira fatia de pão tem uma utilidade enorme. Essa utilidade vai decrescendo à medida que se vai adicionando mais unidades. A décima fatia de pão já representará uma utilidade bem menor que a primeira. A trigésima fatia de pão terá uma utilidade quase nula e a centésima poderá até ter uma utilidade marginal negativa se causar, em nosso consumidor, uma indigestão.
Assim, a utilidade inicialmente aumenta, atinge um máximo e depois declina. É a lei da utilidade marginal decrescente: a utilidade marginal do bem diminui com o aumento do seu consumo.
Outro aspecto importante que se precisa ressaltar é de que não se deve confundir a utilidade total com a utilidade marginal. Enquanto aquela mede o grau de utilidade ou de satisfação de um consumidor a ele trazida por uma dada quantidade de um bem, esta mede o acréscimo de utilidade proveniente da adição de uma dose ou unidade do bem em questão. Não importa ¬pois, o quanto ele já tenha de um certo produto; importa, isto sim quanto a mais de satisfação ele espera obter de uma nova dose ou unidade, na margem, como se diz tecnicamente. Sucede, assim, que quando a utilidade total é máxima, isto é, não pode crescer, a utilidade marginal é zero, justamente, por não haver qualquer acréscimo de prazer a ser trazido pela nova unidade consumida.
Concluindo, a expressão "marginal" tornou-se muito utilizada em Economia e com o significado de acréscimo. Desta forma, utilidade marginal mais não é do que o acréscimo de utilidade que se verifica quando é consumida mais uma unidade do bem. Enquanto não é atingida a saciedade, a utilidade marginal é sempre positiva, ou seja, existirá sempre algum acréscimo de utilidade quando é consumida mais uma unidade do bem. Contudo, devido à Lei das Utilidades Marginais Decrescentes este acréscimo de utilidade é cada vez menor. Por exemplo, quando se consome a primeira maçã, é retirada uma determinada utilidade; ao consumir a segunda maçã a utilidade total aumenta mas o incremento é inferior ao que se verificou com o consumo da primeira maçã; quando se consome a terceira maçã, supondo que ainda não se atingiu a saciedade, a utilidade volta a aumentar mas o incremento volta a reduzir-se.
2- Revolução Marginalista é o nome que se deu ao surgimento, quase simultâneo e independente, no final do século XIX, de uma série de obras que trouxeram os fundamentos para uma nova concepção da Economia, e que contribuiram para transformá-la numa ciência exata.
Essa pretensão programática - a transformação da Economia Política em Economia (Ciências Econômicas) - tem nas obras de Menger (1871), Jevons (1871) e Léon Walras (1874) seus momentos decisivos, e é justamente para designar essa explosão múltipla que se cunhou o nome Revolução Marginalista.
A análise da demanda se tornou possível pela teoria da utilidade, inventada primeiramente pelo funcionário público Herman Heinrich Gossen (1810 -1858) na Prússia em 1854, que criou, num raro e desconhecido livro em alemão, a "Segunda Lei de Gossman" ou a "Lei dos rendimentos Marginais Decrescentes". Seu trabalho, entretanto, foi desprezado por seus contemporâneos e permaneceu totalmente desconhecido até 1878. Na década de 1870 Karl Menger na Áustria (1871), Léon Walras na França (1874-77) e W. S. Jevons na Inglaterra (1871), quase que simultaneamente, recriaram de forma independente o conceito inicialmente descoberto por Gossen, que então foi amplamente divulgado.
Desde Smith até Marx, os economistas clássicos acreditavam que o valor dos bens era derivado do emprego de trabalho na produção da mercadoria. Coube aos economistas neoclássicos (Walras, Jevons e Menger) refutar essa teoria, anunciando que não era o trabalho que determinava os preços de uma mercadoria, mas sim, a utilidade/escassez do bem. A teoria clássica do valor-trabalho - argumentavam os neoclássicos - não respondia como poderia o pão (mercadoria que exige trabalho em sua produção) ser um produto mais barato em relação a um diamante que não tinha emprego de mão-de-obra e, não obstante, valia muito mais.
Além disso, os economistas neoclássicos descobriram uma variável importante na determinação do valor de um bem que é a subjetividade do indivíduo, variável que fundamentou outra relevante contribuição: a lei da utilidade marginal.
É fácil de entender. Imagine que um indivíduo esteja necessitando adquirir uma televisão e esta custe R$ 600,00, e, digamos que este sujeito ache razoável pagar esse valor por uma TV. A partir do momento que ele comprar a televisão, a pessoa satisfaz a sua necessidade (daí o valor utilidade), e, com isso, certamente não pagará o mesmo valor por uma segunda televisão, mesmo que seja idêntica. Em outras palavras, para este sujeito, uma segunda televisão não valeria os R$ 600,00 pago pela primeira, pois esta satisfez sua necessidade mais urgente, ao passo que uma segunda televisão não valeria tanto, segundo seu juízo voluntário, livre e subjetivo.
Para este sujeito, esta segunda televisão ficaria praticamente sem utilidade e, por isso, ele já não valora tanto. Mais ainda, seria no caso desta mesma pessoa adquirir três televisores. Certamente a terceira TV não teria utilidade nem uma e nem mesmo haveria lugar para alojá-la e, com isso, o indivíduo não estaria disposto a pagar nem mesmo R$ 100,00 ou qualquer preço que fosse.
Notem que, de acordo com o comprador de televisão, os valores que ele atribui ao bem, na verdade, estão determinados independente da quantidade de trabalho que foi empregada no fabrico do produto, e, que, no momento que ele satisfaz sua necessidade ao comprar uma televisão, imediatamente reduz o valor de uma segunda unidade. Essa é a lei da utilidade marginal que determina que quando uma unidade satisfaz a necessidade, uma segunda unidade do mesmo bem se torna menos importante, e, portanto, não tem o mesmo valor da primeira.
Outro exemplo simples de compreender a falsidade da teoria do valor-trabalho, afirmam os críticos da teoria marxista sobre valor, é o seguinte. Experimente construir um carro a mão. Digamos que você leve dois anos para deixá-lo em condições de transitar nas ruas. Será que os consumidores pagarão pelo menos umas cinqüenta vezes mais do que o preço de uma Ford Montana zero km, que leva menos de dois dias para ser produzida e, portanto, carrega uma carga de mão-de-obra infinitamente menor que seu calhambeque com 730 dias de força de trabalho. Definitivamente, seu carro estaria carregado de mão-de-obra, mas desprovido de qualquer valor. Na melhor das hipóteses, estaria muito longe do seu correspondente esforço.
Outro erro observado pelos economistas neoclássicos a respeito da teoria do valor-trabalho, é que uma vez aceita essa teoria, decorre por dedução lógica que simplesmente não haveria prejuízo e todos os empreendimentos, toda a produção existente na terra encontraria correspondente demanda pelos preços determinados pelo emprego de trabalho e não pelo julgamento livre, voluntário e subjetivo dos consumidores, pois os bens seriam comprados necessariamente acima do preço de custo. Se o postulado do valor-trabalho fosse verídico estaria garantida a prosperidade eterna, pois a possibilidade de ocorrer falências estaria definitivamente erradicada.
Por fim, concluem os críticos do marxismo que foi o erro dos clássicos acerca da teoria do valor permitiu que Marx construísse sua teoria da mais-valia e por extensão a teoria da exploração. E, uma vez refutada a teoria do valor-trabalho (estrutura das teorias de Marx), cairia por terra todo o edifício teórico erigido por Karl Marx em O Capital.
Mais tarde Alfred Marshall, na Inglaterra, aprofundou essas análises em seu livro Principles of Economics (Princípios de Economia), de 1890, e passou a considerar que os preços são determinados simultaneamente por fatores de custos e de demanda. A análise de Marshall também reconhece as complexas interdependências que ocorrem num sistema de preços, com a demanda e a oferta de várias mercadorias interagindo e se afetando reciprocamente.
Adaptado por Msc Idaildo

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