* Ecio Rodrigues
Festejada durante a realização da COP 18 (a Conferência das Partes sobre
mudanças no clima), a menor taxa de desmatamento já registrada na Amazônia
desde 1988, quando teve início esse tipo de medição, foi considerada uma das
melhores notícias para compensar a crise ecológica de 2012.
Segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais, Inpe, no período entre agosto
de 2011 e julho de 2012, foram desmatados, na Amazônia, o equivalente a 4,6 mil
quilômetros quadrados – um número bem inferior aos 6,4 mil quilômetros de
florestas destruídas no período anterior.
Para o Inpe, todavia, esse número poderia ser ainda menor. Ocorre que, em
três estados amazônicos, o desmatamento aumentou – o que inibiu uma queda ainda
mais significativa da taxa de desmatamento, considerando-se toda a extensão da
região. Em dois desses estados, Tocantins e Amazonas, a ocorrência de eventos isolados
explica esse aumento, que se limitou a algumas áreas localizadas.
A surpresa ficou por conta do terceiro estado, Acre. No caso desse
estado, os técnicos do Ministério do Meio Ambiente e do Inpe não conseguiram encontrar
uma explicação para o avanço do desmatamento.
Além de contrariar a tendência de queda, o aumento do desmatamento no
Acre não se restringiu a uma área específica, o que significa afirmar que o
desmate aconteceu de forma distribuída em território estadual.
Embora o Acre costumeiramente apareça nas estatísticas ao lado dos estados
que se esforçam para reduzir o desmatamento, um conjunto de decisões de
política pública podem, se não explicar a ampliação do desmatamento, ao menos demonstrar
que há uma estratégia de ocupação do território que poderá pôr em risco, num futuro
próximo, a manutenção da floresta.
Quando se toma, por exemplo, uma decisão como a que resultou na extinção
da Secretaria Estadual de Florestas, um sinal é automaticamente emitido para os
agentes econômicos: haverá mudança de prioridade na gestão pública. Afinal, não
há como justificar que a política estadual de florestas, ante o fechamento de
seu principal órgão, não vá sofrer descontinuidade em seus projetos.
Como o investimento privado é rápido para captar oportunidades, a
conclusão de que a política florestal perdeu prioridade em relação às
atividades que pressupõem a substituição da floresta, ocorre de forma instantânea.
Por conseguinte, o deslocamento de recursos de capital e de trabalho para a
substituição da floresta pelo plantio de alguma cultura é imediato.
Adicione-se à extinção da Secretaria de Florestas o elevado incentivo que
tem ocorrido no estado para a criação de ovelhas, para o plantio de coco, de
manga, de cana-de-açúcar e assim por diante.
E, finalmente, inclua-se nesse pacote de políticas públicas a
determinação de conter as ações dos órgãos de controle voltadas para inibir o
licenciamento de desmatamentos e queimadas.
Espera-se que o aumento do desmatamento no Acre não seja uma tendência,
como já aconteceu num passado recente, que alarmou a sociedade local e que
parecia esquecido. Essa tendência poderá ser ou não confirmada pelas estatísticas
de desmatamento, a serem calculadas pelo Inpe no final de 2013.
Contudo, o susto com o aumento do desmatamento no Acre só não se tornará
um pesadelo daqui a doze meses, se novas decisões de política pública forem
tomadas agora, neste momento.
Vale dizer, seria um grande equívoco creditar-se o aumento do
desmatamento no estado a um mero acaso, a um simples acidente de percurso.
* Professor da
Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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